Internações por infarto em
menores de 40 anos expõe como estilo de vida moderno desafia discurso saudável
da Geração Z
Foto: Canva Imagens
A mesma geração que faz post de salada no Instagram, monitora
calorias no aplicativo e fala de saúde mental como prioridade, está com o
coração pedindo socorro. Isso é o que apontam os dados do Ministério da Saúde,
publicados neste ano, que mostram que o número de internações por infarto entre
pessoas com menos de 40 anos aumentou 180% desde o ano 2000. A tal “geração
saúde” parece estar adoecendo — e cedo.
O cardiologista Maurício Nunes chama atenção que há nesses
números também um fator relacionado ao avanço nos métodos e meios de
diagnóstico. Mas ele destaca o uso de drogas e as famosas bombas como
principais vilões para a saúde do coração dessa geração. “Bombas e drogas são
nocivas para qualquer pessoa, independente da idade. Mas a faixa etária [das doenças
do coração] está baixando abusivamente com o uso dessas substâncias”, pontuou
em entrevista à Rádio Metropole.
Mistura
letal
Maurício Nunes cita como exemplo o caso de um jovem de 22 anos
que sofreu um infarto após consumir quatro litros de uma bebida conhecida como
rabo de galo, que mistura coca-cola com água ardente. Depois, o jovem
ainda fez uso de cocaína. “Ele fez um infarto com artérias do coração normais,
ele não tinha doença nas artérias, mas fez um espasmo de artéria pelo uso
abusivo de drogas ilícitas. O que é um espasmo? É o vaso do coração se fechar
por um mecanismo mecânico do uso de drogas e álcool”, explicou.
Vida
corrida
“O estilo de vida moderno também tem uma relação direta e
significativa com o aumento dos casos de infarto entre os jovens”, acrescenta a
cardiologista Marianna Nunes, coordenadora do Serviço de Cardiologia do
Hospital MaterDei Salvador, consultada pelo Metro1.
“O estresse crônico, a má alimentação, que frequentemente inclui uma alta
ingestão de alimentos ultraprocessados e açúcar, e o sedentarismo são fatores
de risco bem documentados nestes casos”, completou.
Além do uso de drogas e anabolizantes, os vapes e a
automedicação ajudam a completar esse combo perigoso. “Tais hábitos modernos
podem ser considerados fatores de risco futuros relevantes. A automedicação,
por sua vez, pode levar a complicações indesejadas e o não tratamento adequado
de condições de saúde pré-existentes”, afirmou Marianna.
Fora do
padrão clássico
Segundo a cardiologista, os sintomas em jovens muitas vezes não
seguem o padrão clássico de dor no peito. “Pode se apresentar como dor nas
costas, fadiga extrema, falta de ar, e até mesmo sintomas gastrointestinais,
como dor abdominal. Isso pode levar a atrasos no diagnóstico e no início do
tratamento”, alerta a profissional.
Geração
que se cuida
Mas nem tudo é descuido no grupo menor de 40 anos. Um estudo
europeu do Instituto Europeu de Inovação & Tecnologia (EIT) aponta que a
Geração Z vem associando alimentação saudável à saúde mental. Segundo o
levantamento, 71% dos jovens entre 18 e 24 anos fazem esforço para comer bem em
casa, e 52% monitoram o que consomem.
Apesar da tentativa de equilíbrio, os números no Brasil mostram que algo não
está funcionando. “A prevenção deve começar na infância e adolescência, com a
promoção de hábitos saudáveis. Isso inclui a adoção de uma dieta equilibrada,
prática regular de exercícios físicos, gestão do estresse, evitar o uso de
tabaco e o consumo excessivo de álcool”, concluiu a cardiologista.
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